A banda Ramones dispensa apresentações, transcendem gerações, ultrapassam barreiras de culturas e classe sociais. Frases como “Hey ho! Let’s go”” e “One Two Three Four!” são clichés do rock n’ roll, A famosa camiseta símbolo da banda veste punks e burguesia. Músicas de três acordes em 3 minutos são obras prima, lados B, letras simples mas profundas e algumas com “two stories sides”, ou você ainda acha que foi o Ku Klux Kan que levou a garota de Joey Ramone?
Eles são grandes e importantes, seus álbuns são marcos na história da música, o visual é moda até hoje e seus remanescentes e agregados adorados eternamente pelos fãs. Eles são ícones, lenda, eles são os Ramones. E tudo parece o plano perfeito até você começar a mergulhar em histórias da banda, ler biografias e livros relacionados, então você percebe que os Ramones não eram uma “Happy Family”.
Commando – A autobiografia de Johnny Ramone conta a infância, a vida e a carreira de um dos fundadores do Ramones, narrada pelo próprio até pouco antes de sua morte. Dizem, que boa parte do livro foi escrito postumamente por sua esposa, mas independentemente disso, o livro retrata quem era Johnny Ramone e o que ele representava no Ramones, o líder, o mau humorado, o ambicioso, o carrasco. E ele era assim, de acordo com suas próprias palavras, mas tinha um bom coração, que preferia manter petrificado, confuso não?
Johnny narra sua história cronologicamente, mas encaixa em alguns pontos, fatos importantes sem se preocupar com as datas. Conta sobre sua infância aparentemente tranquila, de suas lembranças e gostos que o acompanharam por toda a vida, como o cinema e o baseball. Sua adolescência com problemas típicos e comportamento de rebelde com e sem causa, a tentativa de uma vida normal, um emprego formal e uma rotina diária. Como conheceu Dee Dee, Tommy e Joey, como começou a banda e a tocar no CBGB’s e em todos os lugares possíveis em centenas de cidades ao redor do mundo. Ele conta como no início era a simples e pura vontade de tocar, com poucas ambições, mas por dentro almejando o mundo, e como a banda se tornou seu emprego e patrimônio.
Johnny tinha o temperamento difícil, segundo ele mesmo, tinha bons amigos, mas pela língua afiada encontrou em seu caminho alguns inimigos e boas brigas. Ele narra seus altos e baixos pessoais, sua trajetória com os Ramones, sua temporada no hospital após uma apunhalada pelas costas, seus romances e sua paixão por Linda Ramone, sua companheira de vida.
Suas palavras no livro não amenizam suas atitudes e situações, mostra sua arrogância, sinceridade ferina e ambição, mas Johnny não era má pessoa, em alguns momentos percebe-se a intenção de fazer com que tudo fosse de seu jeito para que todos ficassem bem.
Ele conta sobre seu (não) relacionamento com Joey, sua vivência com Dee Dee e sua satisfação em encontrar em CJ um bom menino, momentos bons e ruins com todos, incluindo Tommy e Marky. Comprou briga com o Sex Pistols e invejava o The Clash. Ele abre seu coração e sua honestidade vem a tona ao falar de Linda, ex namorada de Joey, amor de sua vida e sua esposa até a morte, e quando fala dos amigos próximo como Lisa Marie Presley.
Ele era metódico e queria tudo do jeito certo, o seu jeito. Exigente fazia resenhas e dava notas para cada um dos álbuns dos Ramones. Fã e fanático por filmes de terror e baseball, tinha coleções de posters e figurinhas, fazia listas com suas preferências, listas de melhores discos, melhores bandas, melhores filmes, algumas destas vocês encontra no livro.
Johnny Ramone era forte e sabia disso, abusava de seu poder e fazia de sua arrogância um escudo para não parecer fraco, nem mesmo ao falar de sua doença que o fez sofrer por anos e lhe tirou a vida em 2004.
Commando conta através de um texto sem medo a história de ícone do punk rock. O livro lançado em capa dura e boa diagramação, conta com ilustrações e um belo arquivo de fotos da infância a aposentadoria desta lenda, além de depoimentos emocionados de amigos e de Linda Ramone.
Histórias que farão sua opinião mudar quanto aos Ramones e quanto a Johnny. Leitura obrigatória para um fã de Ramones, de punk e de música.